VIAGEM INFINITA
A exposição VIAGEM INFINITA do Museu da Imagem e do Som do Paraná – MIS-PR é dedicada às mulheres; melhor dito ao feminino em sentido amplo. Foi concebida com a utilização de imagens das coleções iconográficas da instituição em diálogo com textos literários de poetas, escritoras e pensadoras; visando mais do que homenagear, provocar o olhar para as muitas memórias da vida.
VIAGEM INFINITA
EXPOSIÇÃO VIRTUAL DO MIS/PR, A PARTIR DE IMAGENS DO ACERVO, PARA AS MULHERES.
Concepção
Vânia Machado
José Luiz de Carvalho
Curadoria
José Luiz de Carvalho
Vânia Machado
Cicely Salamunes
Raianne da Luz Vaz
Anelissa Furtado Rodrigues
Estou sempre em viagem
O mundo é paisagem
Que me atinge
De passagem.
Helena Kolody
Abri curiosa
o céu.
Assim, afastando de leve as cortinas.
Eu queria entrar,
coração ante coração,
inteiriça
ou pelo menos mover-me um pouco,
com aquela parcimônia que caracterizava
as agitações me chamando
Eu queria até mesmo
saber ver,
e num movimento redondo
como as ondas
que me circundavam, invisíveis,
abraçar com as retinas
cada pedacinho de matéria viva.
Eu queria
(só)
perceber o invislumbrável
no levíssimo que sobrevoava.
Eu queria
apanhar uma braçada
do infinito em luz que a mim se misturava.
Eu queria
captar o impercebido
nos momentos mínimos do espaço
nu e cheio
Eu queria
ao menos manter descerradas as cortinas
na impossibilidade de tangê-las
Eu não sabia
que virar pelo avesso
era uma experiência mortal.
Fagulhas, Ana Cristina César
Porque é vasto o coração da mulher, eu sei
- E este mínimo posso dizer -
Que ainda que esse vasto coração
Possa me ferir também
Mesmo assim, dona de mim mesmo,
Insisto tornar-me o que sou.
S/ título, Emily Dickinson
Neste tormento inútil, neste empenho
De tornar em silêncio o que em mim canta,
Sobem-me roucos brados à garganta
Num clamor de loucura que contenho.
Ó alma da charneca sacrossanta,
Irmã da alma rútila que eu tenho,
Dize para onde eu vou, donde é que venho
Nesta dor que me exalta e me alevanta!
Visões de mundos novos, de infinitos,
Cadências de soluços e de gritos,
Fogueira a esbrasear que me consome!
Dize que mão é esta que me arrasta?
Nódoa de sangue que palpita e alastra...
Dize de que é que eu tenho sede e fome?!
Interrogação, Florbela Espanca
Interrogações!!!!
Quem se deleita em tornar minha vida impossível
Por todos os lados?
Certamente estás rindo de longe,
Ó encoberto adversário!
Mas a minha paciência é mais firme
Que todas as sanhas da sorte:
Mais longa que a vida, mais clara
Que a luz no horizonte.
Passeio no gume de estradas tão graves
Que afligem o próprio inimigo.
A mim, que me importam espécies de instantes,
Se existo infinita?
Inscrição, Cecília Meireles
Um dia
Uma cigana
De olhos inquietos
Indiscretos
Bateu na minha porta e leu a minha mão.
Disse-me então,
Que depois dessa aurora em que vivia,
Viria
Um sonho lindo, um sonho tentador
Que escondia tristeza e amargor...
E esta mulher que andou em terras diferentes,
Da mentira espalhando suas sementes
Nunca mais voltou...
Quisera que voltasse e me vendesse
Mais um pouquinho de ilusão...
Volta, cigana de olhos inquietos
Indiscretos
Ler a felicidade em minha mão.
Buena-dicha, Laura Santos
Mulheres que...
Sonham
Semeiam
Prosperam
Odelair Rodrigues (1935-2003)
A grande atriz paranaense foi uma das pioneiras da televisão; tendo começado no rádio. Amiga de Ary Fontoura, trabalharam juntos ainda no radioteatro na antiga Radio Clube Paranaense de Curitiba. Cursou artes cênicas no Colégio Estadual do Paraná e uma das primeiras peças em que atuou foi “Sinhá Moça Chorou”, 1952. Fez parte do pioneiro elenco de atrizes e atores da então TV Paraná, Canal 6. Na televisão, entre outros trabalhos, atuou em O Direito de Nascer, 1964, e Escrava Isaura, 1976. Atuou também no cinema, como em “Lance Maior”, filme do cineasta Sylvio Back, 1968.
Nunca arreguei
Quando tropecei sempre me ergui
Já quebrei a cara
Enfrentei as feras, nunca me rendi.
Tenho proteção
E meu coração sempre a me guiar
Cada ocasião pede uma oração
Para confortar
Se vem de não eu vou de sim
Afirmação até o fim.
Não descarrega sua arma em mim
A sua raiva não vai me abater
Você é não sou um milhão de sins
Tenho meu povo pra me proteger.
Não descarrega sua raiva em mim
A sua arma não vai me abater
Você é não sou um milhão de sins
Tenho meu povo pra me proteger.
Fui forjada no não, virei o jogo
Sua destruição não me enfraquece
Cara feia pra mim me fortalece
Sua frieza é menor que o meu fogo.
Se vem de não eu vou de sim
Afirmação até o fim.
Virei o jogo, Elza Soares e Pedro Luís
Uma menina saudável,
Com o nome a definir,
Vovó a chamou Auritha,
Mas, quando foi traduzir,
Um ancestral lhe contou
“Aryrey” está a vir”;
Mas, para se registrar,
Seguiu a modernidade
Com o nome de Francisca,
Pois, para a sociedade,
Fêmea tem nome de santa
Padroeira da cidade.
Coração na aldeia pés no mundo, Auritha Tabajara
Memórias de uma moça bem comportada
Êxtase
Um teto todo seu
[...] Não desanimei, entretanto; o futuro me parecia subitamente mais difícil do que
imaginara, mas era também mais real e mais seguro; em vez de informes
possibilidades, via abrir-se à minha frente um campo claramente definido, com
seus problemas, tarefas, materiais, instrumentos e resistências. Não indaguei
mais a mim mesma: o que fazer? Havia tudo por fazer; tudo o que outrora
desejara fazer: combater o erro, achar a verdade, dizê-la, esclarecer o mundo,
talvez ajudar a mudá-lo. Precisaria de tempo, de esforços para cumprir uma
parte que fosse das promessas que me fizera: mas isso não me assustava. Nada
estava ganho: tudo permanecia possível. [...]
Memórias de uma moça bem comportada, Simone de Beauvoir
[...] O que pode alguém fazer quando... virando a esquina de repente é tomado por um sentimento de absoluta felicidade — felicidade absoluta! — como se tivesse engolido um brilhante pedaço daquele sol da tardinha e ele estivesse queimando o peito, irradiando um pequeno chuveiro de chispas para dentro de cada partícula do corpo, para cada ponta de dedo?
Não há meio de expressar isso sem parecer "bêbado e desvairado”? Ah! Como a civilização é idiota! Para que termos um corpo, se somos obrigados a mantê-lo encerrado em uma caixa, como se fosse um violino raro, muito raro? [...]
Êxtase, Katherine Mansfield
[...] Para que se sintam superiores, os homens precisariam de espelhos que aumentassem suas dimensões ao menos com o dobro de seu tamanho natural. É claro que esses espelhos são as mulheres. Mas é justamente sua inferioridade, sua atuação como reflexos obedientes, que causa raiva no sujeito espelhado. O espelho é inferior, e se assim não for considerado vai deixar de cumprir sua função especular. [...] As mulheres têm servido há séculos como espelhos, com poderes mágicos e deliciosos de refletir a figura do homem com o dobro do tamanho
natural. [...] Pois se ela resolver falar a verdade, a figura refletida no espelho
encolherá; sua disposição para a vida diminuirá. [...]
Um teto todo seu, Virginia Woolf
Expo Viagem Infinita
Créditos
POEMAS
Helena Kolody, Viagem infinita
Ana Cristina César, Fagulhas
Emily Dickinson, S/ título
Florbela Espanca, Interrogação
Cecília Meireles, Inscrição
Laura Santos, Buena-dicha
Elza Soares e Pedro Luiz, Virei o jogo
Auritha Tabajara, Coração na aldeia pés no mundo
Simone de Beauvoir, Memórias de uma moça bem comportada
Katherine Mansfield, Êxtase
Virginia Woolf, Um teto todo seu
VÍDEO
Entrevista, Odelair Rodrigues
CONCEPÇÃO
Vânia Machado
José Luiz de Carvalho
CURADORIA
José Luiz de Carvalho
Vânia Machado
Cicely Salamunes
Raianne da Luz Vaz
Anelissa Furtado Rodrigues
MIS-PR
Diretora do MIS-PR
Mirele Camargo
Coordenador do Sistema Estadual de Museus
Jorge Fam Neto
Assessoria de Comunicação | SECC
Dani Brito
Assessoria de Design | SECC
Rita Solieri Brandt